Radio A Toa

segunda-feira, março 26, 2012

Quimeras, entre o Outro (Nosso) Eu

Entre o ser e o ter há um existir, uma falta, um devir. Há um Outro lá e este não sou Eu. Vejam, eu não estou aqui a falar alhures, apenas sobre o vazio que o cotidiano as vezes nos apresenta. Como sujeitos mal (muito bem) acabados, somos o que nos resta; de dias e noites cobertos de dores, de amores, de desejos e de percepções que captamos aqui e ali. Ah, mas eu poderia falar sobre outras coisas, sobre a "coisa" que invade e transforma a nossa sobrevivência em um algo mais criativo. Somos sim, sujeitos de quimeras e que vão aos poucos se transformando em desejos nem sempre realizáveis, mas constituídos de outras novas e estranhas quimeras, que nomeamos conforme e quando os nossos caprichos assim se fazem presentes. Somos sim, senhoras e senhores, pessoas de bem, que só "esperam" e "tentam" produzir nada mais do que hipóteses de uma vida mais feliz. Até quando e enquanto assim o empurrarmos, ao nosso querido e eterno, em nome do pai e que se faz sempre presente, o quiser. É um ponto final ou apenas um será, onde nada além do nada, imaginamos estará? E quem é que me responderá?

sexta-feira, março 23, 2012

Faz tempo que faz tempo!



faz tempo que não mudo de idéia
e encontro algo novo
que queira comentar talvez,
o último capítulo da novela.

ou a preguiça de postar.
não mais pensar, só olhando,
feridas que não se curam
as quais sequer queremos
falar sobre.

Diagonosticar no absurdo,
metástases emocionais
impregnada de dores para,
realizar a letra da fantasia
anima mundis...anima mater

Causa sui!

quarta-feira, março 07, 2012

Hoje é dia de Sara_Evil!


Parabéns,
feliz aniversário,
feliz dia,
feliz vida,
feliz da vida,
felicidades!!!
Te amo de montão, Mano véio na veia, Peninha, Sara_Evil e etc e tal! 

Saúde, paz e amor!

terça-feira, março 06, 2012

Tesouros Da Juventude!


Direito ao Delírio - Eduardo Galeano
Extraído do livro "De Pernas pro Ar — A Escola do Mundo ao Avesso"
Editora L&PM - Tradução de Sérgio Faraco.

Já está nascendo o novo milênio. Não dá para levar muito a sério o assunto: afinal, o ano 2001 dos cristãos é o ano 1421 dos muçulmanos, o 5114 dos maias e o 5761 dos judeus. O novo milênio nasce num 1.º de janeiro por obra e graça de um capricho dos senadores do Império Romano, que um bom dia decidiram quebrar a tradição que mandava celebrar o ano-novo do começo da primavera. E a conta dos anos da era cristã deriva de outro capricho: um bom dia, o papa de Roma decidiu datar o nascimento de Jesus, embora ninguém saiba quando nasceu. O tempo zomba dos limites que lhe atribuímos para crer na fantasia de que nos obedece; mas o mundo inteiro celebra e teme essa fronteira.

Um Convite ao Vôo

Milênio vai, milênio vem, a ocasião é propícia para que os oradores de inflamado verbo discursem sobre os destinos da humanidade e para que os porta-vozes da ira de Deus anunciem o fim do mundo e o aniquilamento geral, enquanto o tempo, de boca fechada, continua sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério.
Verdade seja dita, não há quem resista: numa data assim, por arbitrária que seja, qualquer um sente a tentação de perguntar-se como será o tempo que será. E vá-se lá saber como será. Temos uma única certeza: no século 21, se ainda estivermos aqui, todos nós seremos gente do século passado e, pior ainda, do milênio passado.
Embora não possamos adivinhar o tempo que será, temos, sim, o direito de imaginar o que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível: o ar estará livre de todo o veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões; nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães; as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor; o televisor deixará de ser o mais importante membro da família e será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa; as pessoas trabalharão para viver, em vez de viver para trabalhar; será incorporado aos códigos penais o delito da estupidez, cometido por aqueles que vivem para ter e para ganhar, em vez de viver apenas por viver, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca; em nenhum país serão presos os jovens que se negarem a prestar o serviço militar, mas irão para a cadeia os que desejarem prestá-lo; os economistas não chamarão nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida a quantidade de coisas; os cozinheiros não acreditarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas; os historiadores não acreditarão que os países gostam de ser invadidos; os políticos não acreditarão que os pobres gostam de comer promessas; ninguém acreditará que a solenidade é uma virtude e ninguém levará a sério aquele que não for capaz de deixar de ser sério; a morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e nem por falecimento ou fortuna o canalha será transformado em virtuoso cavaleiro; ninguém será considerado herói ou pascácio por fazer o que acha justo em lugar de fazer o que mais lhe convém; o mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se em falência; a comida não será uma mercadoria e nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos; ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão; os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá meninos de rua; os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro, porque não haverá meninos ricos; a educação não será privilégio de quem possa pagá-la; a polícia não será o terror de quem não possa comprá-la; a justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, tornarão a unir-se, bem juntinhas, ombro contra ombro; uma mulher, negra, será presidente do Brasil, e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América; e uma mulher índia governará a Guatemala e outra o Peru; na Argentina as loucas da Praça de Mayo serão um exemplo de saúde mental, porque se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória; a Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés e o sexto mandamento ordenará que se festeje o corpo; a Igreja também ditará outro mandamento, do qual Deus se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte"; serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma; os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar; seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo; a perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses; mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como fosse o primeiro.


"Não há nada tão estúpido como a
inteligência orgulhosa de si mesma". - Mikhail Bakunin