Radio A Toa

domingo, julho 22, 2012

Conheça: Aldo Santillo

por DOREMIFA

Depois de um tempo sem dedicar um espaço ao pessoal fora do mainstream, o site volta a apresentar uma entrevista com o goiano (e atuante no Rio de Janeiro) Aldo Santillo. Embora esteja lançando agora o seu álbum de estréia, “Despeito”, (disponível na íntegra no facebook do cantor), Santillo é um compositor que se aperfeiçoa a mais de 20 anos, o que faz com que algumas canções possuam uma musculatura não muito presente em artistas ainda iniciantes em composição.
Embora “Despeito” tenha como eixo central o rock, as canções navegam pelo indie, blues e até bossa nova. O álbum pode ser bastante interessante para quem procura um som com temáticas mais maduras e que navegue por diversas seções rítmicas.
Mais interessante do que ler a crítica de um ouvinte, o blog traz uma entrevista gentilmente cedida pelo cantor onde o mesmo apresenta seu trabalho, a sua força e suas reflexões sobre o mercado fonográfico e a forma com que se consome música nos dias de hoje. Os links de acesso ao cantor na internet são ressaltados no final do texto.

DOREMIFÁ:  O álbum “Despeito” possui a interessante característica de apresentar pitadas de diversos estilos diferentes, mas com uma textura homogênea. Conte-nos um pouco sobre o como essa ideia de som se desenvolveu.
 
Santillo: Sim, o álbum Despeito, que é o meu primeiro, tem uma forte identificação com o rock clássico, anos 80 até, mas também navega por vários estilos como o blues, mpb, indie, pop e, tudo isso, sem perder a essência. Todas as músicas do álbum têm essa identidade sonora muito forte. A explicação mais fácil para isso é o desencontro temporal de várias das composições que estão ali. Por exemplo, o blues “Corpo Macio” foi feito há mais de 20 anos, assim como “Nuvens”. Já “Segunda-feira” é uma composição que tem por volta de 10 anos, assim como “Despeito” e “Nananá”. Já “Ponto.”, “Por Alice” e “As melhores coisas da vida” são as mais recentes, compostas em 2011. Só por aí já dá pra se ter uma noção de que essa explicação não funciona, ou seja, várias das músicas que estão no álbum, mesmo que feitas em épocas distintas, quando comparadas a outras da mesma época, continuam com estilos distintos. Eu acho que a melhor explicação para essa variação é justamente minha formação musical, que começou com o violão popular, depois o clássico, passando por um pouco de jazz, instrumental. Mas o fundamental é minha paixão pelo rock. Curti muita coisa psicodélica na minha infância/adolescência também, o que influencia algumas músicas. Me lembro que fui assistir ao filme “The Wall” no cinema em Anápolis-GO e fiquei tão impressionado com a trilha sonora do filme que ao sair de lá fui direto comprar o disco (sim, era vinil naquela época) duplo. Quando sentamos pra gravar esse CD, as músicas estavam apenas na minha cabeça (e numa demo que gravei em casa mesmo, só com o violão, apresentando as ideias). A banda que reuní pra gravá-lo é uma galera que me conhece há muito tempo e acho que esse entrosamento ajudou a criar o clima desse álbum. A ideia era gravar todas as músicas com a formação clássica de baixo, batera e duas guitarras, mas acabou que no final ainda colocamos alguns teclados em algumas faixas. Achei que o resultado ficou excelente. O som está bem maduro, o que reflete a qualidade da banda que gravou o CD. Então, acho que muito da coerência sonora vem disso. Praticamente todos os arranjos foram feitos em estúdio, com a mesma banda.
DRMF: O seu som apresenta diversas variações de diferentes épocas. Para você como artista, como acha que isso pode se encaixar nos dias de hoje? Aproveitando, como o novo artista pode se encaixar nos mercado atual?
 

S: Desde a primeira vez que peguei num violão já tentei fazer minha primeira composição, tocando com as cordas soltas mesmo (quem toca sabe que antes de criar o “calo” na ponta dos dedos, não dá pra tirar som do violão). E assim foi. Sempre compus. Então, já estou há mais de 20 anos compondo. Tenho recebido muitas críticas positivas do CD na página do facebook (www.facebook.com/Santillo.Rock) e também no twitter (@aldosantillo), das mais variadas pessoas das mais variadas idades. 
 Quando resolvi gravar este CD, eu estava há alguns anos sem mexer com música, sem compor nada, sem tocar, nada. Parado completamente e afastado do meio musical. Gravei uma música pra participar de um concurso no final de 2010 e acabou que gostei bastante do resultado e resolvi gravar o resto. A princípio fiquei um pouco receoso do que poderia acontecer, mas a minha ideia nunca foi de fazer alguma coisa para que fosse aprovado por este ou aquele público. A única pessoa que precisou aprovar as músicas e a forma como elas estavam saindo, era eu mesmo. Então eu fiz um CD com a minha cara, do jeito que eu gosto e do jeito que eu achava que deveria ser. Claro, com a colaboração de excelentes músicos que tenho o prazer de ter como amigos e parceiros nesse projeto. Todos eles trazendo suas influências para o som, o que tornou o resultado muito mais rico. E eu gosto disso. De colocar uma ideia e ver como ela vai se desenvolver na mente dos outros músicos. Sai muita coisa boa daí. Enfim, acho que meu som tem seu espaço no cenário do rock nacional. Inclusive acho que pode até preencher algumas lacunas. Por ser um som mais maduro, talvez encontre mais facilidade com um público mais maduro, acima dos 30 anos. Acho que falo sobre temas que têm um apelo maior pra esse público. Mas a galera mais nova também tem curtido bastante. Então, acho que tenho meu espaço. O prolema é como ocupá-lo.
E aí vamos entrar na sua segunda pergunta. Um novo artista, com seu projeto independente, como fazer? Simples, tenho que procurar as alternativas que estão disponíveis para a divulgação. São dois caminhos: shows/festivais e internet. Hoje a proliferação de artistas novos é absurda, justamente porque a internet nos dá essa possibilidade de visibilidade para um público enorme. E essa é a minha estratégia. Eu considero que TV não existe. Tudo o que faço é voltado para mídias sociais. Agora mesmo estou com  um grupo aberto no facebook para montar um videoclipe para a música “As melhores coisas da vida” com a colaboração dos fãs (http://www.facebook.com/groups/446219352079353/). Peço que eles enviem fotos com o tema maternidade/paternidade e vou editar essas fotos e fazer um videoclipe pra ser lançado no youtube, no dia dos pais, dia 12 de Agosto. Então hoje, qualquer artista (não só o novo, mas principalmente o novo) tem que ter sua presença online, tem que cultivar seus fãs nas redes sociais, interagir ao máximo e convidá-los a fazer parte do projeto. É assim que o novo artista deve se encaixar e encontrar o seu nicho. A profusão de festivais pelo país também abre as portas e os palcos pros novos artistas. Acho que o cenário é muito bom.
DRMF: Existe espaço para experimentalismos nos discos, como em “Videogames” cuja letra é em inglês e “Nanana”, uma canção sem letra. Como elas se desenvolveram?
S: Eu considero “Nananá” como uma música experimental, não só pelo fato de ela não ter letra (e ainda assim ser cantada), mas também pela adição de outros elementos nela. Soa quase como um country-rock-mexicano extremamente divertido de se ouvir. Quando começamos a gravar “Nananá” eu já tinha uma boa ideia do que queria. Mas na medida em que gravávamos as ideias iam aflorando e fomos juntando tudo pra sair o que saiu. Acho que foi a música que seguiu o curso mais natural entre todas do CD. Ela fluiu. Um exemplo é que os gritos mexicanos que permeiam quase toda a música nem passavam pela minha cabeça quando começamos a gravar. E, ainda assim, eles praticamente viraram uma obrigação logo depois. Essa é a música no CD que acho que tem o maior apelo visual. Você ouve a música e vê o que se passa. Se sente sentado naquele bar, tomando umas tequilas com aqueles personagens típicos do velho oeste. Já “Videogames” é uma música que compus na época que morei nos EUA e assim ficou, em inglês mesmo. Fizemos um arranjo que acho dos melhores do CD pra ela e não havia razão para deixá-la de fora pelo idioma. É uma bela balada e acho que agrada aos ouvidos mais variados. Outras músicas virão em inglês mais pra frente. Ela só abriu o caminho.
 
DRMF: As composições são suas ou sua banda também contribuiu para a montagem das canções?
S: Tenho um único parceiro em duas músicas, que é o Walder Clemente, grande amigo de longa data. Fizemos juntos “Nuvens” e “Ponto.”. Todas as outras são de minha autoria. Agora, todos os arranjos em todas as músicas são da banda. Como disse antes, gosto muito de jogar e ideia e ver o que os outros entendem, o que sai. E quando se está trabalhando com uma banda boa como essa que gravou este álbum, sai muita coisa boa. Gosto de fazer música assim, com os inputs de todos, cada um trazendo sua própria influência musical e colocando um pouco de si nas músicas. Então posso dizer que a banda contribuiu bastante para a montagem das músicas sim.
DRMF: Pra finalizar, a pergunta que sempre fazemos: no que você acha que a internet está contribuindo e atrapalhando o desenvolvimento da indústria musical?
S: A possibilidade de digitalização da música e de sua transferência, sem qualquer perda de qualidade, de uma pessoa a outra, ou a troca entre milhões de pessoas, é um evento que não tem volta. E a internet nos propicia isso. Acho que a velha indústria musical, calcada na venda de discos e CDs físicos, ou seja, de música afixada a uma mídia, essa está fadada ao fracasso. Temos agora uma ressurreição do vinil (alguns custando entre R$40,00 e R$50,00), inclusive com algumas bandas soltando seu álbum apenas em vinil. Não sei até quando isso dura, mas acho que é um modismo e que, mesmo que não seja passageiro, tem um público restrito. O mercado da música mudou, o consumidor de música é outro. A internet apenas democratiza o consumo da música. E abre possibilidades. Dá voz a quem não teria nunca. Mas, também,  ao mesmo tempo que me dá a oportunidade, como artista, de ser ouvido por pessoas que eu jamais teria acesso há alguns anos, ela também faz da música um produto mais banal. Mais banal no sentido de que qualquer coisa que eu queira ouvir, está ali, a qualquer hora, ao meu dispor. E isso, quer queira quer não, desvaloriza o produto “música”. Mas a internet é a grande arma que temos para mudar o que está aí. Essa música de baixíssima qualidade que é propagada pelos nossos meios de comunicação de massa e das quais a indústria musical se alimenta. É na internet que os novos artistas têm que apostar todas as suas fichas. Ela é a liberdade, ela vai lhe dar voz, vai lhe dar um palco para você se apresentar, se tornar conhecido. Acho que com o barateamento constante dos custos de produção musical com qualidade, e tendo na internet um veículo espetacular de divulgação, quando bem utilizado, a produção musical brasileira (e mundial) tem muito a ganhar.

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