Radio A Toa

quarta-feira, agosto 18, 2010

Tesouros da Juventude


Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados.

Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos. Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população? 

Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo.

Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.

Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo.

Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam. Esta é a eterna história do saber, desde que o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva. 

Na suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira.

Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as idéias, e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo. É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente, pelo povo.

É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes?

Na realidade, o controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema representativo, o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.

A Ilusão do Sufrágio Universal - Mikhail Bakunin

5 comentários:

SIL disse...

Quando vejo algum texto de Noam chomsky - leio! e mando para meu amigo e correspondente especial do Oriente médio.....

só pra irritar! kkkkkkkkkkkk

bakinine é legal....Noam.....melhor ainda!

bjs

Keila Costa disse...

É...nós aqui como sempre às voltas com essas eleições que nunca dão naquilo que realmente é prioritário, naquilo que todos ansiamos; dignidade, voz...esse existir coletivo camuflado por trás desses artifícios que não enganam mais, esses sufrágios frágeis...

Renato Pittas disse...

Pois é Prezada Keila, somos vitimas do que cremos que irá nos libertar, e os mandatários tem o conhecimento dessa norma e usam dela para se perpetuarem e manterem as coisas como são, na verdade não interessa a quem detem o poder o que é novo e pode nos dar a voz e a dignidade que tão bem vc coloca....sabe Sil sou admirador de Chomsky e de seus escritos...mas o Bakunin veio bem antes e muito do que o querido Chonski diz Bakunin disse no começo do século, e creio que devemos levar a sério o que eles nos dizem e por pratica revolucionária nunca usar para provocar qualquer tipo de correspondente alheio....não se brinca com coisa séria! é exatamente o mau uso de questões tão sérias como elemento de provocação que nos leva ao atraso que testemunhamos....Nossos filhos serão mais dignos se levarmos as questões revolucionárias mais á sério! sem a malemolência dos tolos que se utilizam de coisas sérias para parecerem provocativos ou um pouco mais kulthurados!.....ensine a todos o que o grande Chonski ensina e deixa de lado de usar coisas tão sérias como simples provocação....para, se rir da própria tolice!....ria-se de si mesmo!

SIL disse...

Chonski é Judeu e muitas questões que aborda provoca o próprio povo dele...(coisa difícil de se ver pra caramba!)

por isso chega a ser excepcional
e maravilhoso

é atual e vivo....

bjs

Renato Pittas disse...

Com certeza ele é um Mestre idependente da nacionalidade.