Sebastião cresceu, brincou, viveu seu primeiro beijo. Na adolescência, experimentou "N" sensações. Viu um pouco de tudo e também, o muito de nada. Continuou, escolheu uma profissão, freqüentou uma universidade, fez mais uns amigos, encheu a cara, fumou todas, enfim, Sebastião mandou ver.
Ele foi trabalhar e conheceu nessa mesma época, uma bela mulher. Alguém que elegeu para passar o resto de sua vida. Casou, construiu um lar. E como era de se esperar, encomendaram um rebento para perpetuar a existência do feliz casal.
Sebastião foi promovido. Tinha uma bela casa, uma mulher bacana, um filho genial, um emprego que o sustentava. Sebastião tinha uma vida perfeita.
Anos se passaram...
Sebastião começou a apresentar um sintoma: não era feliz. Ele sentia falta de algo que não conseguia compreender. Uma incógnita...
Na sua busca interna, imaginava um passado perdido e o sentimento de frustração o perseguia. Como Peter Pan, tentava inutilmente costurar sua sombra rebelde nos próprios pés.
Passou a ver sua companheira com olhos de "era isso que eu queria?", e seu único filho, como um depósito das suas necessidades afetivas. Sebastião estava instável, estressado, inquieto e pronto pra qualquer novidade que surgisse.
Na verdade, Sebastião procurava avidamente por essas "novidades". Uma que fosse diferente, preferencialmente, secreta. S e c r e t a - essa era a palavra mágica. Enfim, Sebastião precisava urgente viver uma vida só dele, que lhe completasse sua vidinha rotineira e parcialmente feliz.
Sebastião foi à luta. Freqüentou casas noturnas, conheceu putas disponíveis e "generosas". Fantasiou sua vida como se o seu passado não existisse. Faltou trabalho, contraiu dívidas, ficou nervoso, desconheceu a sua família...
Sebastião rodou em volta da sua sombra. E quando descobriu que era nada de nada, Sebastião percebeu que a sua imagem era o que construiu. Uma vida repleta de ações, sonhos, conquistas, perdas, obstáculos, amores e acontecimentos...
Sebastião parou e finalmente observou que ele era um sujeito normal. Repleto questões que o impulsionava a querer...
Querer o que? Querer ser.
Como Sebastião, muitas vezes pensamos que não temos o suficiente. Aí, a falta se transforma em um fantasma que nos persegue e nos joga no vazio. Temos na verdade o que precisamos para seguir e nos constituirmos verdadeiros sujeitos da vida. Sem culpas, sem desespero, sem solidão e sem castigos.
É isso aí Sebastião, agora toma uma Coca-cola (um chopp para os que preferirem), e relaxa!