quinta-feira, novembro 04, 2010
O que o beijo tem
A boca dela tinha um olho, e cada vez que a língua dele se intrometia , vinha visão em via de transitar rápido, como se todo caminho se desnudasse na janela ao lado; a cena corrida das paisagens que ficam pra trás, das paisagens que se renovam e atropelam as outras. O beijo deveria ser o estável esquecimento frente a todos os dilacerantes instantes de incompreensão, os momentos superpostos de ação e inanição. Mas o olho da boca se abria adensado feito rio e vertia saliva em forma de lágrima. A boca chorava em momentos de solidão, como faminta a revelar o vazio gástrico, uma fome da alma. O beijo era também o acalento da visão, uma venda irrefreável que ela buscava insolente, sem pudores, sem limites. Mas o limite não tardava a interromper o beijo de olhos abertos, visionários. Entre vendado e desnudado, na maquínica percepção de disjunção, embora todo o desejo fosse de unir, colar irremediavelmente, o olho da boca se debatia. A separação era nítida e jamais ela se faria decifrar e sequer decifraria aquela languidez ou rigidez muscular do beijar, do ver, do olho que o beijo tem.
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2 comentários:
Ah o beijo o degustar sorver da saliva alheia, o beijo bebido sem que outros percebam o doce dividir de cumplicidades e sabores de humores!
Lindo
1º Lindo beijo escrito.
2º Keila, saudades de você aqui.
3º Sara, lembrei muito de você ontem, e deu uma saudade imensa.
4º Beijos para todos, Pessoas!
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