Radio A Toa

segunda-feira, agosto 15, 2011

A antenada srta. N


A Srta. N pensa que o mundo a persegue. Definitivamente não consegue transitar pelas estradas alheias. Cobra diariamente, uma solução para as suas angústias, ter um carro novo, um vestido que lhe dê aparência deslumbrante, uma jóia de rara beleza, um sujeito completo aos seus pés. Repleto de afeto, justificativas, afirmativas, desejo e palavras doces...

Oh boy!

A Srta. N não compreende a palavra não, e o seu limite é estar totalmente fora dele. Vive a céu aberto e a sua verdade é absolutamente real dentro do seu imaginário delirante. É definitivamente, uma foracluída.

A Srta. N sofre. Um sofrimento inenarrável e mortal.

Às vezes, sai pelas ruas sem destino, entra na estação do metrô sentido zona norte, acreditando estar viajando com destino aos subúrbios de Paris!

A Srta. N não pede socorro, ela é sua própria ambulância psíquica e sempre em via de algo que a determine, que a toque profundamente, que lhe grite uma palavra da lei e estruture seu corpo e pensamentos despedaçados.

Outro dia, "carregava" uma faca dentro do peito. Também tinha um sujeito a segui-la, escondido atrás do seu carro. Para completar, o tal personagem possuía um fuzil...

É claro que a tal arma pesada estava direcionada para o seu corpo pequeno e frágil.
Chegou a confirmar que não estava na cidade do Rio de Janeiro, era um país chamado morro do Alemão.
- Você não leu? Está em todos os jornais e programas de rádio e televisão...
Tentei confortá-la. Sua reação foi algo cinematográfico, ela respondeu aliviada:
- Não se preocupe comigo, porque o Capitão Nascimento está chegando e vem me salvar!
Perguntei se ela havia lhe informado o "nosso" endereço. Ela olhou de soslaio, deu uma gargalhada sonora e falou de uma tacada só:
- Eu não preciso dar um "endereço" ao Capitão Nascimento, porque ele lê meus pensamentos, ele sabe tudo que eu faço e sinto. Ele é da Tropa de elite. Você não está antenada hoje! Semana que vem, vou te trazer uma antena que tenho guardada no fundo falso que tenho dentro do meu armário. É uma antena especial... Tecnologia de ponta... Fez questão de afirmar.

Nosso tempo chegara ao final. Olhei para ela, lhe ofereci a minha mão e falei com calma e firmeza:
- Srta. N vamos sair do “nosso” esconderijo, porque o Capitão Nascimento acabou de chegar para escoltá-la com segurança até a sua casa do outro lado da rua.

Ela me abraçou, segurou na minha mão e falou como quem conta um segredo:
- Vamos! Ainda bem que eu consegui completar a minha missão de hoje. Esse mundo está muito louco, não sei onde as pessoas vão parar!

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