Radio A Toa

terça-feira, agosto 09, 2011

'Ilusionados'

Eu sinto essa imobilidade, minha e de todos. Sinto arder em meu estômago, uma das vísceras da alma. Onde estarão as virtudes? Se as soubéssemos...que bálsamo teríamos. É que hoje tanto faz, posto que tudo é perdoado, embora a tortura seja lenta e silenciosa para quem não quer sentir, ouvir. Torturados de vendas, a não ver o carrasco nem forca, senão um imaginário torto sem os encantos surreais, mas invertido, carcomido, como uma cicatriz, viva cicatriz. Se tudo quanto queremos está lá na prateleira, basta colher sem os esforços primitivos da coleta, basta pegar e trocar por papel inerte, um engôdo engenhoso pra nos livrar do peso mineral, um engôdo fosco de brilhos em personagens e natureza morta. Sentes essa imobilidade? Essa sedução ilusão? Crês talvez na incompreendida luta de conjecturar saídas para onde não há saída, labirintos minotáuricos, essa fusão tão apropriada ao humano enganador. Não, não sentes a imobilidade, posto que avanças irrefreável ao gosto de pegar pois qualquer beneficiado à venda, agregados ilusórios de valor, apêndices criados em avanços de narcisos, cheios de vontade de poder. Mas não queres colher amor, posto que este pressupõe o primitivismo da troca. Pressupõe também o trocar em abstrato, para além do objeto. Há nuances maravilhosas nisso, imprecisões raras, acertos inimagináveis de sentir.

4 comentários:

Sara_Evil disse...

fonemas acumulados em frases perfeitas, milagre da palavra, do sonho ao real passando pelo delirio do "acerto inevitável"

Muito Bom1 Um beijo carinho celebrando o carinho do teu escrever!

S_E

Nina Blue disse...

Keila, sabe o que me passou?
Que muitas vezes transformamos as nossas vontades e a interpretamos como em uma mitologia grega e com tudo a que temos direito, sem sentir e medir com as verdades os nossos atos insanos.
Beijos!

Keila Costa disse...

Oi Nina querida!
Talvez seja isso mesmo...transformemos nossas vontades...mas qual a real motivação disso tudo...dessas vontades em trasnformação? Se falamos nos objetos do consumo, logo aparecem outros ainda mais apetitosos nas prateleiras...e o vazio? Esse vazio que muitos relatam ao comprar e comprar irrefletidamente? Por que não gera reflexão muitas vezes e mudança de ação? E a mitologia é mesmo rica pra interpretar esses estados de alma, sobbretudo como fatalidade...será que é mesmo fatal essa ordem das coisas, de nós no mundo?
Beijos

Nina Blue disse...

De certa forma sim...
A fatalidade sobrevive dos momentos que não conseguimos nomear e dar conta, tonces, nos colocamos em uma postura dramática e reinamos absolutos em nossos "palcos" particulares. Ah, nós os humanos!