Eram tantas as cartas, inúmeras, algumas mais recentes, incipientes; outras longíncuas, de um amarelo passado, que, por vezes, chegava assim tão presente, embora a ausência não pudesse ser negada naquele material viver. Nem todos haviam vivido aqueles dizeres, nem aqueles que se postaram ali a escrever, talvez se reconhecessem em letras já tão mudadas no coração e na mente. Mas havia uma carta, especialmente uma, que deveria ser encontrada por Antônio...
Essa carta fora do tempo em que as cidades não se conformavam como caracol. Eram cidades espalhadas, que fugiam apressadamente do centro, sob pena de se perderem infinitamente na fixidez da forma. O centro era cambiante e, assim, todos os caracóis insurgentes se desmanchavam, e todos os que os habitavam eram mais semelhantes em sentimentos e condições; livres para serem diferentes.
Tal como as cidades, as cartas eram fugidias, incompletas, porém repletas de tudo o que não se dizia no caracol de dura carapaça e de gente informe, em massa. Antônio temia vê-la, temia esse retorno a um existir em que nada lhe parecia conforme. Entretanto, ansiava por aquelas letras e palavras sem ressalvas, vertiginosamente cheias de imprecisão e encanto; uma vida inscrita ali, esquecida na rotina dos dias amontoados em anos e enganos de conviver...O centro começava a atordoá-lo...Era urgente encontrar aquela carta descentrada...
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Um comentário:
Uau, tá ficando muito boa a nossa novela. maravilha, Keila!
Beijos!
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