Entre os secos e molhados de Dona Naná, Antônio sentia-se também como se parte dele secasse, e outra mergulhasse tão fundo que não haveria como emergir. O empório era como um lugar da rua em que seu sentimento de casa ressurgia. Todas as histórias podiam ser contadas mesmo que de antemão não houvesse personagens bem determinados. Assim ele perguntava repetidas vezes à comerciante sobre alguém que outro alguém amara, que fora deixado, que tivera o coração dolorido, a mente confusa...Tudo isso na tentativa vã de compreender sentimentos, verdadeiros entupimentos nos caminhos da alma...
Naná era boa ouvinte...Ouvia todos que por ali destrinchavam contos da realidade e da imaginação. De fato, ela cria que fatos eram sempre pressupostos, pois já vinham carregados de intenções, interpretações, espelhamentos, julgamentos. Por isso, ela ouvia e custava falar, opinar. Ouviu Antônio também...seus lamentos e seus enlevos retóricos por causa da amada desalmada. No fundo ele não acreditava que o caráter daquela mulher fosse tão torpe, e nesses momentos de mais dúvida que ira, ele pensava sobre ele mesmo, sobre o que nele poderia ter despertado nela aquela atitude.
Antônio e Ana Maria eram pura vertigem no amor, e na dor também não se ausentavam um do outro. Mas não seria a ausência mesmo disfarçada a culpada de tudo? Haveria mesmo culpados? A culpa não seria uma desculpa em realidade para tudo o que não se compreende bem? Depois do bolinho de feijão veio o de bacalhau regado por mais cerveja, quando Antônio começou a fazer parte daquela história que não queria contar, até que surgiu como personagem sem anonimato, ali entre os secos e molhados, entre a sobriedade e a embriaguez...
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2 comentários:
Parabéns Excelente
Ai meu Deus, quem será???? ÒTIMO!
E beijos...
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