Capítulo 2
A Carta
A pequena cidade de Caracóis amanhecera ensolarada. A energia que pairava no ar, era contagiante, uma latinha de “Rediebulle” (marca nova no mercado), não teria um efeito melhor. Os habitantes estavam elétricos e ansiosos. Todos trabalhavam na decoração da Praça Dom Cornolouco, onde se passaria a festança. Até as beatas trocaram as vestes escuras e discretas, por roupas de trabalho pesado. Bandeirinhas coloridas, flores de papel crepom, barraquinhas e mais barraquinhas, decoradas com as fotos do santo padroeiro, bolas de gás e até mesmo um grande boneco de plástico (daqueles de posto de gasolina de estrada), vestido de anjo, com os braços imensos que se jogavam de um lado para o outro ao sabor do vento, convocava a todos para o grande evento...
A histeria era visível. Todos estavam elétricos!
Enquanto a cidade fervilhava, Antonio acordava após poucas horas de sono. Tivera uma noite difícil após a carta que o carteiro lhe entregara. Por que a vida tinha que ser tão complicada? Logo agora, que estava tão bem, com a vida nos trilhos, sua tia Guilhermina estava para chegar...
Ele, o belo Antonio, que encontrara enfim um lar, um lugar pacato e perfeito para guardar o seu segredo. Porém, conhecia sua tia Guilhermina, ela não era nada discreta. Precisava urgentemente de uma solução!
Enquanto pensava, Antonio olhou pela janela do seu quarto, que tinha uma bela vista panorâmica da cidade. Aquela casa o conquistara desde a primeira vez, era de tamanho perfeito e estava em excelentes condições. Tinha charme e estilo, simplesmente acolhedor! A casa estava abandona há anos. Seu último morador havia falecido em acontecimento trágico (até hoje não esclarecido). As pessoas eram conservadoras e preconceituosas, pensavam que o fantasma do Sr. Tudoright vagava pelos seus cômodos e jardim...
Enfim, a casa tinha um “Q” de mistério e charme irresistíveis. Por isso, Antonio havia alugado sem pestanejar. Lá, ele guardava o seu pequeno tesouro, sua identidade original e, seus objetos intransponíveis de compreensão comum.
Sim, Antonio era um ser diferente...
Olhou para a pequena igreja no alto do morro e ficou pensando, quem sabe lá, seria o lugar perfeito para se guardar um segredo, afinal, os santos e os mortos não falam...
Será belo Antonio?
Continua no próximo capítulo...
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