Radio A Toa

quarta-feira, julho 14, 2010

My Room


Perdido no labirinto do quarto, entrego-me ao sono, deitando no chão que ainda não foi varrido, tomado por ácaros hostis que se deitam ao lado propondo um amor impossível de se realizar, simpático ao escuro e ao mistério do futuro fico aqui rezando pelos segredos que desconheço, pelas lembranças que assolam ao sonho, só uma triste e rústica definição do sofisticado que revelam os inconcientes inconfessáveis, cercado de anjos reviro a cama suando nesta noite interminável e insone....o medo do que não consegue lembrar dos sonhos e não tem nenhuma identidade noturna, buscando promessas que se desfarão quando os olhos se abrirem e enxergarem as primeiras cores do dia neste quarto vazio de nós & de você, impregnado de ausentes lembranças de um ontem que se tornou ilusão na manhã anterior a esta que confessa existências posteriores...o corpo busca a existência na certeza da morte a qualquer momento, nas palavras que emocionam, transgredindo o que ainda não foi dito como as lembranças de uma alma ainda não nascida, ainda não realizada, abortada como pecados que buscam remissão....olhos negros que nunca olharão a luz, nunca se porão em meio a dúvidas e dores...só lamúrias neste quarto vazio aonde os mosquitos lutam desesperadamente para porem ovos, perpetuarem-se zumbindo a ouvidos sonânbulos, desesperados buscando por uma razão para voltarem a existir na manhã que me incendiarão os olhos, oferecendo informações a retina, ativando a curiosidades pelas letras que dirão outras palavras, que mostrarão outros caminhos em meio ao desespero que já não cria angústia ou traduz alguma dúvida....só palavras aleatórias falando as mesmas frases que escuto desde o nascimento pela boca de minha mãe e pelas incertezas sobre o futuro do meu pai.....e a instavel trajetória das descobertas, ora duvidosas, outras concisas como quem se ajoelha para beijar o selo papal, a um próximo banhado em bálsamo de lavanda, perfumado como a promessa da vida eterna.....e fazer pose para a mídia como bom cristão que despreza a vida por certificar-se da salvação pela crença virtual na promessa da fé nascida na boca que ora, repetitivamente a tradição oral dos conquistadores....séculos de sangue derramados em nome dos crucificadores justificando a barbárie da tortura aos que ousaram falar em nome de algo maior do que eles conseguiram compreender e do que os assustavam pela idéia de perda da perpetuação de seus poderes mortais....fizeram-nos promessas sem pronunciarem promessas, em nome da palavra de alguém que não disse nada, nos colocaram num limbo a esperar pela salvação de um dia libertarmo-nos de nossos medos ancestrais, ou de ser-mos libertos d'onde o espirito dos antepassados arderam como nós, sofremos por falta de subjetividade e pela banalização de nossas crenças...palavras como o fio desta meada que me orienta por um labirinto sem saída aos temores e inseguranças adquiridas pela incapacidade de consumir o que é o novo e pela inutilidade do que ainda o é, se apresenta...

Olhos que olham incertos as quase imperceptíveis sombras que navegam pelas paredes prometendo prendas que sanariam dúvidas, dando uma duvidosa certeza de que o futuro é só uma utopia do presente e por isso devemos preservar o passado para não padecermos das incertezas como as cigarras que cantam a vida por um dia e morrem se não amarem durante a tarde de seus encantos....crueldade visceral da sobrevivência das espécies, darwin no axioma e nós a babar intelectualidade e discernimento sobre a verdade e capacidade de tornar "gadgets" tecnológicos em produtos do desejo.

nós produtos, aptos a consumir esta parafernália babilônica disfarçada de outdoors psicogeográficos que nos perseguem de bairro a bairro nesta metrópole de sonhos e violência banalmente comum....sobremesas do questionamento, cookies da informação....lembranças do fórceps e das dores da mãe a parir...certeza de que não chegará próximo a estas memórias pois não carregas as mesmas imagens que se desfazem no esquecimento que levam para longe até mesmo de nos mesmos, palavras sopradas a um vento que vem no meio de um rodamoinho incerto e inculto, como dizer frases escritas em linguagem vulgar.

sobre a poeira que circula no ambiente deste quarto lutando contra o ventilador que anestesia o calor e impede que insetos sobrevoem pesadelos e ouvidos em vôos rasantes, feito os dos kamikazes desiludidos da vida, propensos a aventuras maiores do que continuarem vivos acreditando nisso que negamos afirmar como verdade...ou adjetivo singular!

2 comentários:

Keila Costa disse...

Sobre o conteúdo muito teria a dizer...encanto-me com sua sensibilidade e reflexão...a forma textual que some em parágrafos em gradação, cada vez menores e rompendo o padrão da capitular que inicia, inicia o quê? apenas normatizações sem sentido...Talvez estejamos mesmo sumindo num zumbido em torno de uma luz que pode se apagar a qualquer momento...Beijos

Gigi Jardim disse...

Ah há quanto tempo não leio um texto que me comova
ou que me mova
mentira
eu sempre os leio aqui
mas eu gosto de dramas, vocês sabem
e eu vivo de charme.